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SIMPÓSIOS

1. Ensino de literaturas africanas de língua portuguesa

Profa. Dra. Lílian Paula Serra e Deus (UNILAB)

Prof. Dr. Wellington Marçal de Carvalho

O ensino de Literaturas Africanas no Brasil tem, ao longo dos anos, encontrado muitos entraves, que perpassam a necessidade de atentar-se para uma perspectiva de formação continuada dos profissionais da área; para a questão dos currículos escolares, que muitas vezes não atendem às exigências das leis 10.639 e 11.645, que como sabido dispõem, sobretudo, sobre a obrigatoriedade de se voltar o olhar para a história e cultura africana no âmbito da educação. Nesse sentido, este simpósio se propõe a discutir as questões complexas que abarcam o ensino das Literaturas Africanas no Brasil, pensando-se em todas as suas nuances, desde a maneira como a Base Nacional Comum Curricular assegura ou se omite com relação a essas literaturas; como elas aparecem nos livros didáticos ou como a sua ausência pode sinalizar para a necessidade de enfrentamento de tensões que impigem ao ensino das literaturas africanas uma espécie de margem dentro do cenário da educação. Propõe-se, pois, refletir sobre essas questões no sentido da proposição de perspectivas que problematizem a situação do ensino das literaturas africanas no Brasil, pensando-se nos desafios a serem enfrentados e que se relacionam a uma multiplicidade de fatores que precisam ser atravessados para que as literaturas africanas alcancem um espaço cada vez maior dentro do sistema educacional brasileiro.

2. Teoria e crítica literária africanas

 Profa. Dra. Terezinha Taborda Moreira (PUC Minas)

A formação dos sistemas literários africanos de língua portuguesa tem colocado em evidência o comprometimento que, muitas vezes, escritores e escritoras assumem com problemáticas políticas, ético-morais, socioculturais, ideológicas e econômicas. Consequentemente, a recepção crítica das literaturas tem priorizado os enfoques que realçam a interseção entre o estético e o histórico e/ou antropológico-sociológico. Tendo em vista esse enquadramento promovido pela produção crítica em literaturas africanas de língua portuguesa, este simpósio pretende discutir o modo como se vem conformando a sistematização dessas literaturas como campo de conhecimento, mas tentando ampliar a perspectiva para pensar em abordagens que permitam propor novas formulações analíticas e teóricas para elas. Assim, interessa a este simpósio a discussão dos seguintes temas: Como as literaturas africanas têm sido abordadas? Quais aportes teóricos têm alimentado o seu estudo? Eles têm contribuído para a construção de formulações teóricas que nos permitam dar visibilidade às especificidades das produções estéticas africanas de língua portuguesa? Como a abordagem crítica que se faz das literaturas africanas de língua portuguesa impactam a construção de um cânone da área? Esse cânone reflete a realidade das produções estéticas dos países africanos de língua portuguesa? As comunicações podem apresentar análises de obras e/ou autores/as específicos/as, ficcionais ou críticas, mas também podem conter abordagens comparatistas, inclusive com textos ficcionais ou críticos produzidos em outras línguas.

3. Literaturas afrodiaspóricas

Profa. Dra. Francy Silva (UFPB)

O presente Simpósio Temático pretende estimular o diálogo e aprofundar as reflexões em torno de escritas literárias afrodiaspóricas nas quais se observam as interfaces entre literatura, história e memória para compreensão mais abrangente dos contextos e mecanismos de resistência negra, reescrita da história da escravização colonial e ressignificação identitária. Nesse percurso, cruzando tempos distintos, espaços e narrativas, é através do discurso literário de autoria negra que as questões relativas à ancestralidade, à identidade, à história e às culturas dos povos afrodiaspóricos e seus descendentes se manifestam e garantem o direito à memória de um povo/grupo. Centrada nestas preocupações, o Simpósio Temático alinha-se às questões epistêmicas desenhadas por Édouard Glissant (1990) acerca da “poética da relação”, assim como busca ancoragem na categoria político-cultural da Amefricanidade proposta por Lélia Gonzalez (1988). Em consonância com os pensamentos críticos de Stuart Hall (2003) e Carole Boyce-Davies (2010),o ST impulsiona um debate profícuo acerca das identidades diaspóricas -, evidenciando como estão constantemente em negociação-, além disso, promove uma articulação sobre as noções de “colonialidade de poder, saber e ser” (QUIJANO, 2000; MALDONADO-TORRES, 2016), bem como relativos à “insurgência negra epistêmica” (SALES, 2020). Por essa razão, pretende potencializar uma crítica ao processo do colonialismo e sua herança colonial nas relações de poder, de saber e do ser com vistas a contribuir para uma produção de conhecimento, cuja força pode ressoar nos estudos literários e analítico-críticos. A partir dos pontos levantados, este Simpósio Temático acolherá trabalhos que apresentem resultados de pesquisas já concluídas ou em andamento com foco naquelas que abordem os seguintes campos temáticos: diáspora, ancestralidade, memória, história, resistência, negritude, raça, gênero, feminismo, racismo, corpo, identidade, entre outras/os, tecendo esses diálogos a partir da análise de um ou mais texto/s literário/s de autoria negra diaspórica.

4. Deslocamentos espaciais e estéticos

Profa. Dra. Luciana Brandão Leal (UFV)

Entre afro-muçulmanos e

Cristãos

Navego

E contra um cego

Império de escravos

E gloriosas mortes

Bracejo

(tal destro espadachim ibérico)

Embora meio judeu

Persa e azteca

(Virgílio de Lemos, A invenção das ilhas)

A etimologia da palavra trânsito, do latim, transitus, é assim definida pelo dicionário Houaiss: “1. ato de transitar [...] 2. afluência, circulação de pessoas [...] 3. movimento de veículos em determinada área, cidade, etc.; tráfego [...]. 4.passagem, acesso [...]. 5. passagem de um lugar a outro [...]. ETIM lat. transitus, us ‘ação de passar, passagem’, der. do lat. transire ‘passar de um lugar a outro’; passar; decorrer (o tempo)” (HOUAISS, 2001, p. 2751-2752). As definições da palavra referem-se a pessoas ou veículos, que se deslocam em determinado tempo e espaço, em movimento contínuo de ir e vir, o que pressupõe a interação com a paisagem e seus elementos. Os movimentos de trânsitos incorporam um complexo sistema de inter-relações. 


Este simpósio acolherá trabalhos que investigam temas e manifestações de deslocamentos presentes na “floresta de signos” das literaturas africanas escritas em língua portuguesa. Nesse sentido, propõe-se, aqui, pensar a identidade, o pertencimento e a diferença1 que se manifestam nas feições literárias de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe a partir do conceito de diáspora de Stuart Hall (2011) e Prisca Agustoni (2013). 


O termo diáspora, cuja origem etimológica vem do grego clássico e significa, essencialmente dispersão, define o deslocamento de pessoas de uma determinada região para outra, por motivos políticos ou religiosos. Originalmente, esse termo referia-se ao povo judeu exilado na Palestina e à sua dispersão forçada a partir do exílio na Babilônia (século VI a.C.) e após a destruição de Jerusalém (em 70 d.C.). Na história moderna, o povo judeu e seu destino no Holocausto são, segundo Stuart Hall, “um dos poucos episódios histórico-mundiais comparáveis, em barbárie, com a escravidão moderna” (HALL, 2011, p. 28). A diáspora judaica fundou-se como o exílio traumático de um povo permanentemente perseguido, fazendo com que a palavra diáspora tenha uma força semântica profundamente negativa.


Deslocando-se o significado desse termo para o contexto de África, o conceito de diáspora passa a significar a migração forçada dos negros africanos para o Novo Mundo, mediada pelos países europeus colonizadores, que viram nessa empreitada a possibilidade de grande rendimento econômico – a comercialização de escravos – o que pode ser analisado pelo viés histórico, geográfico, social ou antropológico. Em suma, o violento movimento diaspórico que se configurou em territórios africanos pode ser definido como a migração forçada de pessoas para espaços de domínio europeu. Mantém-se a ideia de dispersão para se caracterizar o termo, aproximando-o da acepção judaica, já que ambas carregam a marca de movimento conflituoso e violento. Stuart Hall (2011) dedica-se às reflexões sobre a diáspora caribenha, a partir da migração da população negra afro-caribenha para a Grã-Bretanha, no período pós-guerra, e sobre os assentamentos negros caribenhos no Reino Unido. Em prefácio para o livro Da diáspora: identidades e mediações culturais, Lik Sovik conclui: “o pensamento de Hall passa por convicções democráticas e pela aguçada observação da cena cultural contemporânea”, (SOVIK, 2011, p.11). Dada a relevância desse estudo e a possibilidade de, a partir dele, pensarmos a complexidade das identidades em construção, ele pode ser aplicado a outros espaços, como os países africanos de língua portuguesa. Segundo o teórico jamaicano, o conceito de diáspora não deve ser pensado apenas pela conformação binária das diferenças, já que tais definições não abarcam a identidade cultural dos povos em diáspora. A identidade é “uma costura de posição e contexto” (SOVIK, 2011, p. 15) e não um conceito aleatório a ser estudado com base na fronteira da exclusão. 


Os versos evocados na epígrafe desta seção, do poema “Paisagem tropical”, são sintomáticos, porque neles se constatam influências e trânsitos no espaço tropical moçambicano, com heranças étnicas e culturais afro-muçulmanas, cristãs, judias, persas e astecas. Heranças diversas que constituem o tecido e a tessitura cultural de Moçambique. Essas múltiplas feições são retomadas em versos cujos fios de sentidos e palavras são urdidos pelo eu-lírico de Virgílio de Lemos. Essa epígrafe pretende evocar os trânsitos e deslocamentos que (con)formam as identidades e os projetos literários dos países africanos de língua portuguesa.

5. Intermidialidades contemporâneas

Profa. Dra. Karina de Almeida Calado (SEE-PE)

Profa. Dra. Roberta Maria Ferreira Alves (UFVJM)

Um grande desafio da atualidade é conhecer melhor as poéticas modernas e contemporâneas. Por esse motivo, entendemos que, ao privilegiarmos os instrumentos teóricos e críticos do domínio dos estudos interartísticos, tendo como objeto de estudo principal as práticas criativas de matriz literária, somos capazes de estabelecer aproximações e diálogos entre a imagem verbal, a imagem visual e a música, com destaque para as relações entre a Literatura e as Artes Visuais, Imagem em Movimento e Performance. Sob essa perspectiva, é possível ressignificar o papel da escrita literária num mundo que insistentemente privilegia a relação texto/imagem, questionando os mecanismos de inclusão e exclusão no cânone artístico, bem como os princípios que regulam o estabelecimento de fronteiras entre as artes e, ainda, a sua transgressão e/ou superação. Utilizando os conceitos de intermidialidade e de transmidialidade (RAJEWSKY, 2012; 2020), (CLÜVER, 2006; 2012) e (MÜLLER, 2012), com especial ênfase para as noções de hibridização, mediação, reciclagem e remediação, este simpósio pretende discutir as relações entre a Literatura Contemporânea e as Artes dos países africanos de língua portuguesa: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.

6. A autoria feminina nas literaturas africanas

Profa. Dra. Helen Leonarda Abrantes (PUC Minas)

Profa. Dra. Luciana Genevan da Silva Dias Ferreira (PUC Minas)

O simpósio pretende acolher e divulgar trabalhos que analisem produções de autoria feminina nas literaturas africanas de língua portuguesa, visando à construção do debate sobre visibilidade, reconhecimento e participação da mulher no processo de escrita literária em Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. Além disso, visa à (des)construção de como se lê e concebe, política e esteticamente, essas produções literárias, colaborando tanto para o enriquecimento dos debates no espaço acadêmico quanto para a formação dos professores da educação básica de ensino. Portanto, almeja-se com este simpósio uma movimentação do pensamento sobre as literaturas africanas em língua portuguesa escritas por mulheres que observe o enredamento, ou seja, os nós de literatura, cultura e história; além das crises vivenciadas nesses contextos discursivos da contemporaneidade. Para tanto, fontes teóricas que abrangem os estudos sobre a presença e a importância da mulher como sujeito da escrita no contexto literário colaboram com a reflexão que se pretende desenvolver aqui, como os estudos desenvolvidos por Constância Lima Duarte (2003), por Manuela Tavares (2011), e por bell hooks (2015), além de fundamentação sobre escritas de autoria de mulheres, elaboradas por Lúcia Castelo Branco (1991), por Judith Butler (2015), e por Luiza Lobo (2012), bem como abordagens sobre literaturas africanas de língua portuguesa desenvolvidas por Inocência Mata (2000), Maria Nazareth Soares Fonseca (2015), Terezinha Taborda Moreira (2005) e Laura Cavalcante Padilha (2004).

7. Colonialidade, violência e resistência

Prof. Dr. Bernardo Nascimento de Amorim (UFOP)

Prof. Dr. Vércio Gonçalves Conceição (UFOP)

A ideia de colonialidade do poder, tal como estabelecida pelo sociólogo peruano Aníbal Quijano e desenvolvida por outros intelectuais latino-americanos e caribenhos (Walter Mignolo, Ramón Grosfoguel, Nelson Maldonado-Torres), parece-nos produtiva para pensar as tensões que marcam a história e a literatura dos países africanos de língua oficial portuguesa, onde as consequências nefastas de certas estruturas relacionadas à ocidentalização do mundo são bastante evidentes. Antes de tal ideia surgir com esse nome, autores como Frantz Fanon já chamavam a atenção para a violência característica do “mundo colonial”, “mundo hostil”, “que esmaga com suas pedras os lombos esfolados pelo chicote”. O mesmo autor, entretanto, falava da resposta ao poder em questão, tratando da descolonização como anseio e prática, no âmbito da qual se tornaria possível o surgimento de “homens novos”: “A descolonização [...] atinge o ser, modifica fundamentalmente o ser [...]. A descolonização é, em verdade, criação de homens novos”. Da parte dos intelectuais africanos de língua portuguesa, Amílcar Cabral é outro autor que revelava compreensão aguda sobre o desafio a vencer, precisando o seu inimigo e vislumbrando um caminho a seguir: “[...] no seu significado mais profundo, a libertação nacional é um processo revolucionário, que implica uma derrubada completa do domínio imperialista e das suas formas coloniais e neocoloniais. Isso implica [...] a tentativa de destruir a estrutura capitalista, sobre a qual se baseia a exploração dos operários e camponeses, para substituí-la pelo socialismo”. Neste simpósio, é nosso interesse acolher propostas de trabalho que façam uso de referenciais como os acima apontados, latino-americanos, caribenhos, africanos ou de outras procedências, para a investigação de projetos e formas próprias das literaturas de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, em seu processo de elaborar alternativas de resistência a uma modernidade/colonialidade que, violenta e sistematicamente, não lhes favorece.

8. Memória e testemunho

Profa. Dra. Roberta Guimarães Franco (UFMG)

As literaturas africanas de língua portuguesa assumiram um significativo papel nos processos sócio-históricos de resistência ao colonialismo e consolidação das independências. Diante dos discursos produzidos pela perspectiva eurocêntrica que tentavam justificar a manutenção da lógica colonial em pleno século XX, a exemplo da produção da “literatura colonial” estimulada pelo Estado Novo português, as literaturas africanas de língua portuguesa construíram um outro espaço de memória e testemunho. A cena literária trouxe reflexões críticas sobre as dinâmicas e as relações nos espaços coloniais, explicitando as variadas formas de violência e as resistências possíveis. Da luta pelas independências aos enfrentamentos vivenciados pelas novas nações, as literaturas permanecem desempenhando o que poderíamos chamar de um lugar memorialístico, coletivo e individual, revisitando personagens e episódios do passado, distante ou recente, problematizando os desafios da contemporaneidade, produzindo novos testemunhos acerca das experiências e dos traumas de um corpo nacional, coletivo e também de perspectivas subjetivas. Portanto, este simpósio pretende reunir trabalhos que se dediquem, a partir de uma metodologia transdisciplinar, dos estudos da memória e das teorias sobre a literatura de/como testemunho, à leitura e análise das literaturas africanas de língua portuguesa, desde a sua formação às suas expressões mais atuais, bem como aos seus diálogos com outros objetos culturais.

9. Identidades e diversidades

Prof. Dr. Natalino da Silva de Oliveira (IFSEMG)

Seguindo o caminho dos conceitos de confluência e pluripotência, tratados por Antônio Bispo dos Santos, na obra Colonização, quilombos: modos e significações (2015); as análises aqui desenvolvidas visam extrapolar e corroer as fronteiras geográficas e epistemológicas para a construção de um debate inovador entre as diferentes literaturas africanas de língua portuguesa, seus contextos, diversidades e identidades. As análises propostas para este simpósio também poderão ser desenvolvidas a partir dos elementos que “trans-passam” essas expressões literárias, tais como as questões relacionadas ao gênero, à sustentabilidade e ao meio ambiente, à raça, à cultura. Pensando no tema do Seminário, Crises, nós, fronteiras, busca-se reconstruir sentidos: a fronteira enquanto nó ou enquanto divisão, as fronteiras em nós mesmo, as crises dos nós: fronteiras. Afinal, qual o papel das literaturas na diluição das fronteiras e na construção de um novo sentido para constituição dos seres, para a geração de novas subjetividades?

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